Catarinense recebe título de funcionário com maior tempo de registro em empresa

| 29 de jan. de 2013
Aos 90 anos, o catarinense Walter Orthmann só tem um registro em sua carteira de trabalho: desde os 15, ele nunca mudou de empresa nem parou de trabalhar. Na semana passada, ele recebeu o título de funcionário com o maior tempo de registro trabalhista em uma só empresa, pelo "RankBrasil", o livro dos recordes brasileiro. Agora, seus colegas planejam reivindicar o mesmo registro no "Guinness".

Leia a seguir o depoimento de Walter Orthmann à Folha

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Hoje [23.01.13] estou em São Paulo. Na segunda vou para o Rio e, depois do Carnaval, fico três semanas no Nordeste. Viajo um terço do ano, como gerente de vendas, uma mala de amostras na mão e a minha, de roupas, na outra. Preciso visitar meus clientes.

Já estou com 90 anos. Na semana passada, quebrei meu próprio recorde pelo maior tempo de trabalho em uma única empresa: 75 anos. Nunca pensei em parar.

Quando comecei, em 17 de janeiro de 1938, o meu salário era em réis. Desde então, já passei por oito moedas diferentes. Na minha carteira, o meu salário é na casa dos milhões. Hoje, não vale nada [ri].

O catarinense Walter Orthmann, 90, trabalha desde os 15 na RenauxView
(ex-Indústrias Têxteis Renaux)
 
HISTÓRIA
 
Eu tinha 15 anos quando fui com minha mãe pedir um emprego na RenauxView [ex-Indústrias Têxteis Renaux]. Batemos na porta e, em seguida, um diretor nos atendeu e disse que eu poderia começar na segunda.

Meu primeiro cargo foi como auxiliar de expedição. Era das 6h às 18h, mas parava ao meio-dia. Enrolava tecidos, escrevia nas etiquetas. À noite, eu estudava datilografia

Depois fui trabalhar como estafeta, o que chamam de office-boy. Naquela época tudo era feito em dinheiro vivo, que buscava para pagar aos operários. Ia com minha própria bicicleta até o banco.
Meu cargo seguinte foi em faturamento. Quando comecei, fazia tudo a mão. Não tinha máquina de calcular.

Em 1955, o diretor achou que eu deveria viajar e conhecer clientes. Na minha primeira viagem, fechei uma venda para as Casas Pernambucanas que fez a tecelagem trabalhar por um mês inteiro. Não parei mais de viajar

Ia de ônibus para Rio e São Paulo. Depois, com o avião, passei a percorrer o Norte e o Nordeste. Ia de Porto Alegre a Manaus. Ainda hoje, o Nordeste é inteirinho meu

A empresa tem clientes mais antigos que me acompanharam e fazem questão de serem atendidos por mim. Em muitos lugares, já estou na terceira geração. Comecei a negociar com o pai, depois com o filho e hoje o neto

IGUAL AO PAI
 
Tenho oito filhos, cinco do primeiro casamento e três do segundo. Casei de novo aos 58 anos, com uma moça de 27. Meu filho mais novo, Marcelo, nasceu quando eu tinha 71 anos. Hoje ele tem 19 e começou a fazer estágio na mesma empresa em que trabalho, mas no setor de compras.


É igual ao pai, já quer trabalhar! As pessoas brincam com ele e perguntam: "Marcelo, você também vai ficar na empresa por 70 anos?"

Também convivi com todos os 12 diretores. Em 2006, mudou o controle e entrou como presidente o Armando [Hess de Souza]. Eu vendia tecidos para a mãe dele

SEM E-MAIL
 
Acompanho todas as mudanças na tecnologia, na produção. Mas não deixo a máquina de escrever, que ainda uso. Nunca pensei em trocar por um computador. Hoje, computador é preciso, mas não quero pegar um. Já trabalho o dia todo e não quero me viciar nisso

O mesmo vale para e-mail. Se eu tiver um e-mail, vou acabar olhando em casa e trabalhar à noite. Não dá. Minha rotina é simples: acordo às 6h, tomo banho, depois como um mamão papaya, iogurte, tomo suco de laranja e um pinguinho de café. Mas sem açúcar, porque não é bom para ninguém.
Começo a trabalhar às 8h, faço pausa para o almoço e fico até as 17h. Mas nas viagens não tenho horário. Já cheguei a sair de casa à noite e chegar só no outro dia.

FÉRIAS
 
Eu me aposentei em 1978, mas perguntaram se eu não queria continuar a trabalhar. Eu era útil para a empresa. Desde então, nunca pensei em sair. Se me aposentar, não vivo mais. Meus amigos que se aposentaram não estão mais comigo

Trabalhar é saúde. Se ficar em casa, você fica doente. Ao mesmo tempo, no trabalho, você não pode ficar nervoso. É preciso trabalhar com alegria e fazer o que gosta.

Eu faço o que gosto. Conheço todos os tipos de tecido, todos os panos. Não gosto de tirar férias. Eu fico nervoso. Em casa, eu durmo tarde, acordo tarde, fico com o corpo duro de ficar no sofá.
Já recebi outras ofertas de emprego quando era mais novo. Uma empresa de Brusque ofereceu até o dobro do salário. Mas nem cogitei sair.

Quando fiz 70 anos na empresa, fiz questão de fazer uma festa. E disse no meu discurso: "Se Deus quiser, daqui a cinco anos estarei aqui novamente para comemorar".

E comemorei. Agora, o que vier é lucro. Vou trabalhar até a saúde me ajudar.

Fonte: Folha de São Paulo
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