Admirador de Bob Marley, reggaeiro é? É tudo maconheiro?

| 7 de abr. de 2015
| Por Beatriz Facchini

Dreadlocks, referências ao cantor e compositor Bob Marley, roupas e acessórios com as cores verde, amarelo e vermelho: o que lhe vem à cabeça quando esses elementos são citados? O reggae é um gênero musical que vem desde 1960 conquistando uma legião de fãs pelo mundo, mas que atualmente ainda sofre julgamentos sobre seu público.

Ícone desse estilo musical, o jamaicano Bob Marley foi também um dos grandes responsáveis por propagar a religião Rastafári aos simpatizantes de sua obra. Assim, muitos leigos acabam por confundir e associar o reggae ao rastafarianismo. De acordo com Carlos Massoco, 41, especializado em História pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), os seguidores deste movimento religioso adoram o ex-imperador da Etiópia Haile Selassie, “Marley carregava consigo um anel com restos do anel de Rei Salomão, do qual Selassie descendia”, conta. Dentre vários costumes da cultura Rastafári está a utilização da maconha, geralmente junto ao estudo da Bíblia, como um ritual espiritual de limpeza do corpo, mente e alma.

Daniela Geraldin, 37, ouve reggae desde criança, quando ganhou algumas fitas do Bob Marley, mas afirma que não utiliza roupas com as cores da bandeira da Jamaica por receio de sofrer preconceito: “Tenho medo de que me chamem de maconheira. Outro dia, meu filho de oito anos ficou espantado ao ver que gosto. Ele disse: ‘Mãe, a senhora curte reggae? Isso é coisa de drogado!’”.

Hélio Bentes, vocalista da Ponto de Equilíbrio
(Foto: Arquivo pessoal)
No Brasil, uma das principais e mais famosas representantes do reggae brasileiro é a banda Ponto de Equilíbrio, que já possui 15 anos de carreira, três CD’s, sendo um deles lançado pela Warner em seis países, um DVD e música com participação do rapper Marcelo D2. Hélio Bentes, 31, é vocalista da Ponto de Equilíbrio e afirma que sempre sofre preconceito: “Eu, sendo negro, morando na favela do Rio de Janeiro, tendo dread e sendo vocalista de uma banda conhecida de reggae, sempre sofro com olhares, cara feia, vejo pessoas mudando de caminho porque estou em um. Se nós olhássemos cada um como um ser único, saberíamos que mesmo na Jamaica existem pessoas que sequer gostam de reggae e fumam maconha”, completa.

"Penso que, por falta de informação, o ser humano já cresce aprendendo a tirar conclusões precipitadas sobre vários assuntos, esse não é diferente" - Hélio Bentes.

De acordo com a professora de Sociologia do ensino médio e estudante de Psicologia do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP), Angélica Soares, 35, as tribos e subgrupos defendem crenças, ideologias e se fortalecem através de hábitos comuns: “Alguns hábitos tornam-se estereótipos, produzindo generalizações desnecessárias e injustiça. Associar um segmento musical ao uso de drogas é, além de preconceituosa, uma atitude não científica e não atenta às mudanças da sociedade global, desprezando o fato de que as relações entre as realidades são intensas e interfluentes”.


Série Faces do preconceito
Este texto é uma colaboração da 19ª edição da Revista Foca.
Acesse http://bit.ly/rfoca19, leia e conheça o projeto.

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