Alessandra França: 'Ao ler o livro percebi que a ideia poderia ser replicada em minha região' (Foto: Reprodução) |
Em 2001, a paranaense Alessandra França tinha 15 anos de idade quando começou a estudar informática no Projeto Pérola, ONG que oferece profissionalização para jovens carentes de Sorocaba, no Interior Paulista. Em 2006, ela leu o livro "O banqueiro dos pobres", do indiano Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz naquele ano, que construiu o Grameen, uma rede de crédito que modificou a vida de milhares de pessoas em Bangladesh. "Ao ler o livro percebi que a ideia poderia ser replicada em minha região", diz ela, ao identificar afinidade entre vários jovens como ela que não conseguiam fazer seus projetos decolarem devido à falta de crédito. Em 2009, inscreveu projeto de um banco similar ao de Yunus em concurso de uma organização internacional de estímulo a projetos sociais, a Artemísia, e recebeu R$ 40 mil para tocar o projeto. Deu certo. Hoje, aos 27 anos de idade, Alessandra preside o Banco Pérola, próspera instituição que concede empréstimos de R$ 500 a R$ 5 mil para população de baixa renda e para pessoas que tenham projetos de empreendimento.
Balanço social
O Banco Pérola não apenas empresta o dinheiro, como também oferece consultoria para os microempreendedores. Conta com mais de 1.030 atendidos e 340 projetos em acompanhamento. Os juros são de 4% ao mês e a inadimplência não passa de 2%. Sua meta agora: expandir o projeto para outras cidades do Interior Paulista. Alessandra busca chamar a atenção de potenciais parcerias que poderiam oferecer microcrédito, com esse mesmo perfil. “Buscamos ONGs que possam nos apoiar no trabalho de captação de cliente e orientação ou empresas privadas e instituições financeiras que queiram emprestar dinheiro ou fazer doações para o projeto”, diz ela. Pessoas físicas ou jurídicas podem emprestar dinheiro ao Banco Pérola contando com rendimento de até 12% ao ano.
Fim social
"Atendemos pessoas que não têm perspectivas e nenhum crédito nas instituições financeiras tradicionais, mesmo valores muito pequenos. Assim, mais que um microcrédito, oferecemos oportunidades”, diz a presidente do banco. Cada empréstimo envolve 3 pessoas. É uma forma de garantir que a dívida será paga, embora isso não seja uma preocupação do banco. Para a liberação do microcrédito, é feita uma análise do empreendedor e da empresa. Como são pessoas sem crédito na praça, o que se observa é o potencial empreendedor do candidato.
Diversificação
Os negócios financiados pelo Banco Pérola envolvem sempre orientação sobre como reestruturar, lançar e gerir a empresa, sendo que os clientes contam com alguns meses de carência para iniciar o pagamento das prestações. De carrinho de pipocas a salão de beleza, há de tudo um pouco e os exemplos bem sucedidos não param de surgir em Sorocaba, segundo reportagem publicada pelo jornal Cruzeiro do Sul, da Rede Paulista de Jornais (APJ).
Setor Dois e Meio
O Banco Pérola é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), criada para oferecer microcrédito para população de baixa renda. Enquadra-se na categoria do chamado setor Dois e Meio, ainda pouco difundido no Brasil e que tem esta nomenclatura por ser um misto entre terceiro setor (das organizações sociais sem fins lucrativos) e o segundo setor (das empresas privadas). Para ser considerado um projeto dentro do setor Dois e Meio, a iniciativa deve visar lucro como qualquer empresa, porém tendo atuação de reconhecido impacto social. “Aqui o seu sonho tem crédito”, diz o slogan do banco na internet (site www.bancoperola.org.br).
Fonte: Folha da Região/Jornal Cruzeiro do Sul