Três décadas de emoticons :-)

| 19 de set. de 2012
Há 30 anos, o professor Scott Fahlman enviava a primeira combinação de caracteres para expressar sentimentos

É muito provável que, em algum momento, você já tenha utilizado alguma carinha como essa “:-)” em algum e-mail ou mensagem, seja como demonstração de afeto, depois de alguma piada ou para amenizar algum tópico mais desagradável. Talvez você as use o tempo todo. Talvez você as odeie. Mas, certamente, você as conhece, bem como suas muitas variações, que expressam os mais diversos sentimentos e estão incorporadas à maioria das plataformas que utilizamos hoje em dia.
Scott Fahlman, que, em 1982, enviou o primeiro e-mail com emoticons. FOTO: 17/9/2007
Nesta quarta-feira, 19, os emoticons completam 30 anos de existência. Tudo começou no departamento de Ciência da Computação da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh. Por meio de “bboards”, uma espécie de boletim online precursor dos grupos de e-mail, estudantes e professores trocavam mensagens sobre os mais diversos assuntos, desde palestras e avisos do departamento a discussões sobre política ou aborto; ou mesmo banalidades como vagas de estacionamento do câmpus.

O problema era que, frequentemente, pessoas mandavam e-mails com um teor humorístico, ou ao menos tentavam. No entanto, não era sempre que eram compreendidas: às vezes uma pessoa não entendia o tom sarcástico de certo comentário e logo rebatia com uma mensagem enorme em reprovação. Isso gerava mais e mais respostas e, logo, o assunto original morria por completo.

Depois de uma série de casos assim, alguns integrantes, brincando, sugeriram que talvez fosse uma boa ideia indicar explicitamente quando certo comentário não fosse para ser levado a sério, uma vez que, na linguagem escrita, não se pode contar com dicas dadas pela linguagem corporal ou pelo tom de voz.
Começou, a partir daí, um brainstorming para “marcadores de piada”, e várias sugestões apareceram. Entre elas, um e-mail mandado pelo professor Scott Fahlman, no dia 19 de setembro de 1982, às 11h44:


Eu proponho a sequência a seguir para quem for fazer piadas:
:-)
Leia com a cabeça de lado. Na verdade, provavelmente seja mais econômico marcar coisas que NÃO sejam piadas, devido às últimas tendências.
:-(


Pronto. Embora a internet ainda fosse incipiente na época, a coisa se espalhou. “Depois de alguns dias, notei que as pessoas em Carnegie Mellon estavam realmente usando a tal coisa em seus e-mails”, disse Fahlman ao Link. “Em cerca de dois meses, já havia se espalhado em toda a nossa versão primitiva da internet, para outras universidades e laboratórios de pesquisa. E aí se espalhou para novos lugares, sempre que alguma organização nova se juntava à nossa rede em crescimento.”

Fahlman conta que, dentro de alguns meses, começou a ver dezenas de “carinhas” por aí: com a boca aberta de surpresa, usando óculos, imitando o presidente Abraham Lincoln, o Papai Noel, o papa e assim por diante. “A criação dessas compilações espertas tornou-se um verdadeiro hobby para algumas pessoas. Mas só as minhas duas carinhas originais e a da piscadinha — ;-) –, além das versões “sem nariz”, parecem ser as comumente usadas para a comunicação do dia a dia.”

Para Fahlman, os emoji não permitem que os usuários sejam criativos para produzir carinhas novas. FOTO: Reprodução
O professor lembra que agora, ao digitar as “carinhas” em muitas plataformas, os caracteres são transformados em pequenas imagens ou animações. Isso começou com a Microsoft e a AOL, mas hoje também acontece no GTalk e no Facebook, por exemplo. Os emoji, série de carinhas amarelas que retratam expressões diversas, já podem ser incorporados como uma das “línguas” disponíveis nos smartphones, fazendo então parte da troca de mensagens entre usuários, seja por SMS ou aplicativos.

No entanto, as novas versões não conquistaram Fahlman: “Não sou muito fã dos emoticons gráficos e emoji. Acho que a maioria deles são feios, e eles estragam a diversão de tentar inventar maneiras espertas de dizer alguma coisa com poucos caracteres padrão”, afirma.

Há quem diga que as carinhas “:-)” e “:-(” já tivessem sido usadas há muitos anos na datilografia. Fahlman recebe e-mails de pessoas alegando que um parente ou amigo já escrevera a expressão em alguma carta pessoal. Embora nunca tenha visto evidências dessas informações, Fahlman não nega a possibilidade de essas sequências de três caracteres terem sido escritas antes dele. No entanto, ele acredita que a sua foi a única que vingou de fato, sendo a que se espalhou e gerou as milhares de variações que conhecemos hoje.

Fahlman, então, se considera o criador dos emoticons, apesar de não possuir nenhum tipo de licença sobre eles. “Não creio que seja possível fazer copyright de algo assim, muito menos fazer dinheiro disso. Se cada pessoa tivesse de gastar alguns centavos para usar uma carinha feliz, ninguém as usaria. Então, esse é o meu presente ao mundo”, diz ele.

“Cada nova palavra muda o modo como nos comunicamos, e acho que os emoticons fazem parte disso. Acredito que eles devem ter evitado alguns mal-entendidos, ou talvez muitos deles; além disso, as pessoas parecem se divertir com eles”, diz.

Fahlman desenvolve pesquisas e trabalhos na área de inteligência artificial, que ele próprio define como a tentativa de colocar um monte de conhecimento de senso comum em computadores, para que eles sejam cada vez menos estúpidos e para que possamos nos comunicar por meio deles utilizando a linguagem humana comum. “Levamos mais tempo do que o esperado para resolver esse problema, mas acho que, até agora, nós temos feito um bom progresso."

Fonte: Estadão
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